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Startup quer reduzir atropelamentos e mortes de animais nas estradas

Em seus mais de 20 anos de experiência em pesquisa, extensão, orientação de alunos e envolvimento em políticas públicas, o professor de ecologia e pesquisador Alex Bager viu ótimas soluções para proteger vidas humanas e de animais nas estradas não vingarem por falta de incentivo ou dinheiro. Depois de trabalhar no Rio Grande do Sul por um período, ele se mudou para Minas Gerais, onde atualmente trabalha como professor e pesquisador na Universidade Federal de Lavras (UFLA).

Foi na cidade mineira que Bager e a equipe da universidade tiveram a ideia, em 2014, de criar um aplicativo chamado Sistema Urubu, que nada mais era do que uma rede cidadã que permitia ao usuário tirar fotos de animais atropelados. “Com as imagens e dados que recebíamos, conseguimos mapear locais de grande impacto no Brasil”, frisa. O Sistema Urubu acabou ganhando campanhas, como o Dia de Urubuzar, quando mobilizou mais de 30 mil pessoas de zoológicos, universidades, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com mais de 100 grupos trabalhando em todo o país e replicando a ação com o aplicativo em suas cidades.

Com a experiência adquirida com o Sistema Urubu e um banco de dados de mais de 400 mil registros de animais atropelados nas estradas brasileiras, Bager decidiu criar a Environment Inteligência de Negócios e Tecnologia (EnvironBit) em 2019, junto com o seu pai e a namorada na época, hoje atual esposa e sócia.

“É uma startup de impacto social que se apoia em pesquisa científica e ações no dia a dia. Gosto de dizer que é um exemplo do potencial realizador: quando a universidade sai do mundo acadêmico e vai ao encontro das necessidades do mundo aqui fora.”

Alex Bager, empreendedor

No mesmo ano, a EnvironBit foi selecionada para ser incubada dentro da universidade. Logo em seguida, veio a pandemia, e tudo acabou sendo feito a distância até novembro de 2022. “Recebemos um prêmio como uma das melhores incubadas do período”, recorda-se. Ele relata o apoio recebido do Sebrae: “Para mim, o Sebrae é quase como braço direito da nossa empresa. É como se fosse pai e mãe. Antes mesmo de fundarmos a startup, já fazíamos capacitações para aprender a fazer plano de negócio”.

Desde então, os sócios da EnvironBit já participaram de diversas iniciativas. “Nossa virada de chave ocorreu com os programas de aceleração. Durante a pandemia, participamos do ‘Capital Empreendedor’ e do ‘InovAtiva’, que foram remotos. Já no Inova Amazônia, que foi em sua maioria presencial, intensificamos nossa participação nas atividades do Sebrae”, comenta o pesquisador. “Agora, estou conectado com cerca de 10 grupos do Sebrae e diariamente recebo diversas oportunidades para participar de ações, como o LAB do Mato Grosso do Sul.”

Erika Bager é co-fundadora da EnvironBit. Foto: Arquivo pessoal.

Inovação que salva vidas

O primeiro produto desenvolvido foi o U-Safe, uma espécie de Waze de proteção da biodiversidade. O aplicativo avisa em trechos mais perigosos das estradas para reduzir a velocidade, oferecendo mais segurança para as pessoas e para a vida silvestre. “E como a gente faz isso? Nós criamos o que chamamos de ‘KM da Proteção’ e que é a grande inovação da empresa”, explica Bager. “Com nosso banco de dados de animais atropelados, agregamos informações biológicas, ecológicas e de rodovias para entender a região do entorno, se tem água, pasto, a temperatura média, formato da rodovia, se é reta, curva, entre outras. São mais de 100 variáveis reunidas”, enumera.

Com todo esse conjunto de informações e o uso de tecnologia artificial, a startup consegue prever situações de risco, além de ampliar o mapeamento de quilômetros de estradas, sem a necessidade de conhecer todos os trechos. Atualmente, já são mais de 400 mil km mapeados e um nível de 86% de precisão. “Como é um sistema preditivo, conseguimos fazer um paralelo entre vias com características e condições similares e extrapolar o cenário para todos os lugares do Brasil.”

A inovação permite que EnvironBit preste consultoria e disponibilize as informações de forma estratégica e em diferentes formatos, com base na necessidade de quem o contrata. Atualmente, atua tanto com órgãos públicos quanto com empresas privadas e pode prestar serviços de planejamento territorial, traçar melhores rotas para licenciamento de estradas e ainda oferecer soluções para mitigar os atropelamentos em vias já existentes. Além disso, unindo o KM de Proteção e o U-Safe, ainda é possível ampliar o projeto para toda a sociedade. De acordo com Bager, não há tecnologia como a da EnvironBit no mundo.

“Atualmente, conseguimos atender todo um estado, ou até mesmo um país. Se um governo adquire nossos serviços, por exemplo, passa a ter a malha rodoviária inteira de um estado mapeada e dentro do U-Safe ou de outro aplicativo, com acesso gratuito para toda a sociedade. Esse é nosso objetivo: estar disponível para toda a população.”

Alex Bager, empreendedor

No início de agosto de 2024, a startup lançou o Crédito de Fauna. Como o crédito de carbono ou o crédito de biodiversidade, que tangibilizam os impactos de ações de empresas ao meio ambiente, a iniciativa da EnvironBit traz o mesmo conceito, mostrando quantas vidas foram salvas durante uma viagem por quilômetro de velocidade reduzida. O projeto já está disponível e a empresa conversa com companhias de gestão de frotas para expandir sua solução, buscando uma certificadora para ampliar o benefício do Crédito de Fauna.

Aproximação com Portugal

“Abrimos uma filial em Portugal no início de 2023. Graças ao Sebrae, participamos do Web Summit que aconteceu lá e fizemos vários contatos”, resume Bager. “Temos um administrador português e ele tem feito algumas sondagens de mercado.” O pesquisador destaca que pretende iniciar no país pelo setor de logística. “A questão do ESG lá é muito mais forte do que aqui, assim como o de concessões também é muito bom. Então é um país com ótimas perspectivas”, prevê.

Fonte: Agência Sebrae