A Porto (PSSA3), antiga Porto Seguro, teve uma receita líquida 21,4% maior no primeiro trimestre deste ano, mas seu lucro caiu 40,6%, em um resultado considerado “fraco” e “ligeiramente negativo” pelo Credit Suisse. O CEO da empresa, Roberto Santos, culpa a maior sinistralidade do segmento auto, gastos maiores no residencial e uma inadimplência maior nos serviços financeiros pelo desempenho, admite que “a situação não é confortável” e diz que “o remédio já foi dado, mas o impacto não vem agora”.
Santos é ao mesmo tempo CEO e diretor de Relações com Investidores da Porto, uma combinação não muito usual no mercado. Ele acolheu uma sugestão do Conselho de Administração da companhia, que mudou de nome e abandonou o “Seguro” para tentar evidenciar a transformação pela qual está passando: ser mais que uma empresa de seguros para dobrar o número de clientes até 2025 e ampliar a receita.
Também fazem parte dessa estratégia a Porto Saúde patrocinando o Rock in Rio, o Porto Seguros Bank patrocinando a Fórmula 1 no Brasil, além do lançamento do seguro auto por assinatura, da Azul Seguros, durante uma prova líder do BBB deste ano (a nova Porto foi dividida em três grandes áreas: seguro, saúde e serviços financeiros).
A empresa também está investindo no seu “super app”, para ter todos os serviços em um lugar só e aumentar a penetração de negócios por cliente – o CEO diz que a Porto tem mais de 20 negócios para pessoas físicas, mas cada cliente tem em média 1,6 produto. “Nem dois, sendo que temos mais de 20. Estamos nos estruturando para aumentar o número de negócios por cliente. Antes nós tínhamos 16 aplicativos, um para cada serviço. Construímos um ‘super app’ e agora estamos migrando os serviços para lá”.
Santos dá um exemplo hipotético: pela localização do celular, é possível estimar onde o cliente mora; pelos gastos dele no cartão de crédito, é possível estimar até o tamanho do apartamento. A partir disso, a Porto pode enviar uma notificação oferecendo gratuitamente um seguro residencial para o cliente. E depois o corretor pode oferecer algumas opcionalidades para ele contratar, melhorando a apólice.
O executivo afirma também que o “super app” permite que a empresa controle os serviços que serão oferecidos para cada tipo cliente (e no momento correto). “Não adianta ofertar tudo para todo mundo. Eu não vou oferecer uma previdência privada para um cliente de menor poder aquisitivo; eu vou oferecer um seguro para celular. É preciso ter esse tipo de inteligência.”
Detratores do 1º trimestre
Santos aponta o aumento do custo com sinistros no segmento de seguro automotivo, um maior custo no seguro residencial e uma maior inadimplência nos serviços financeiros, mas diz que todos os problemas já foram endereçados: principalmente com um aumento expressivo no valor dos novos seguros e mudança na aceitação de risco de empréstimos, além do fechamento de alguns canais de distribuição considerados problemáticos.
A sinistralidade subiu 10,5%, para R$ 61 milhões, e o índice de sinistralidade do segmento auto ficou em 65% (contra 50% na comparação anual). Já a inadimplência acima de 90 dias cresceu 2,2 pontos percentuais, para 6,2% (contra 4,0% no primeiro trimestre de 2021 e 5,3% no quatro trimestre).
O resultado financeiro também prejudicou o resultado, mas Emerson Faria, head de Relações com Investidores, diz que a empresa realizou prejuízos pontuais de curto prazo pensando no longo prazo: aumentou a exposição a títulos pré-fixados com vencimentos mais longos, realizando um prejuízo em títulos atrelados à inflação, e diminuiu a exposição da carteira em renda variável de 4% para 3% (pode parecer pouco, mas é uma redução de 25%).
“O remédio foi dado, mas o impacto não vem agora. Para resolver a sinistralidade auto, por exemplo, nosso preço médio [do seguro] subiu de 30% a 40%. Um aumento muito forte. Por isso o impacto na receita foi forte [a receita líquida da companhia subiu 21,4% no trimestre]”, afirma o CEO. “Hoje, a situação não é confortável. Mas acreditamos que já no trimestre a sinistralidade vai voltando a os patamares históricos”.
O executivo afirma que a empresa tem sistemas robustos de precificação, mas era impossível prever a forte alta no preço dos carros usados e das peças no ano passado, devido à escassez de veículos novos no mercado. “Foi algo muito atípico. O que aconteceu no segundo semestre [de 2021] eu nunca tinha visto. Pararam de vender carros novos e houve uma valorização muito grande nos usados e nas peças. E não tem como emitir um endosso para aumentar o preço do seguro de quem já contratou”.
“A forma de resolver isso é com preço. A gente vem aumentando o preço desde agosto, mas isso afeta só os novos contratos – os antigos seguem impactando os negócios. A sinistralidade foi de 65% muito por safras [meses] anteriores a agosto”, diz o executivo. “Você precifica pelo valor de quando o seguro foi contratado e obrigado a pagar a indenização no momento no sinistro. Essa subida não tinha como precificar.”
Outro segmento que afetou negativamente o resultado foi o seguro residencial, por dois motivos: uma maior utilização de serviços de assistência e um maior desembolso devido às chuvas de janeiro e fevereiro, que causaram alagamentos e desmoronamentos. Santos afirma que o segundo ponto “já entrou nos eixos” e o primeiro não é de todo ruim. “Significa que as pessoas estão usando, o que é bom porque fideliza o cliente e ajuda na retenção”.
Pontos positivos e valuation
Mas nem tudo foi ruim no resultado. A receita líquida subiu 21,4%, para R$ 5,9 bilhões, com a área de seguros crescendo 16%, para R$ 3,9 bilhões, a de saúde 37,4%, para R$ 720 milhões, e a de serviços financeiros 36,7%, para R$ 1,058 bilhão. Além disso, a receita de serviços aumentou 35,6%.
A empresa chegou a 11,7 milhões de clientes e o volume de vidas atendidas avançou em todas as áreas – com destaque para um crescimento de 34,6% no segmento saúde, para 369 mil vidas (o maior já registrado). O número de clientes auto cresceu 3,6%, para 5,7 milhões, e o vida 1,3%, para 4,3 milhões.
O Credit Suisse afirmou que o resultado do primeiro trimestre da Porto foi “ligeiramente negativo para as ações” e que a empresa “apresentou resultados fracos principalmente devido ao aumento da sinistralidade no segmento de automóveis, com os impactos da inflação continuando a pesar negativamente”.
Mas o banco destacou que os números “foram amplamente antecipados” e os dados de abril “devem começar a mostrar uma melhora”, em um movimento que deve ficar mais visível no segundo semestre. Destacou também que as ações da empresa têm sido negociadas abaixo da média histórica, com um desconto de 27%.
Relatório do banco UBS diz que o resultado veio abaixo do estimado por causa da maior sinistralidade auto e os resultados financeiros mais fracos, mas destacou alguns pontos positivos no balanço: prêmios emitidos melhores do que o esperado, o resultado da Porto Saúde e as receitas com operações de crédito.
Apesar disso, o UBS tem uma avaliação neutra para as ações, com um preço alvo de R$ 22 (o papel fechou a R$ 19,32 na segunda, uma queda de 3,3% no primeiro pregão após a divulgação do resultado).
Fonte: Infomoney